Dia 2 de Dezembro de 2008 entrei para o "Hospital de Santa Maria" para ser operada no dia 4 de Dezembro.
O nervosismo era mais do que muito, na minha cabeça havia um turbilhão de pensamentos, uns mais positivos que outro mas não havia outra saída …”Tinha que ser”.
Dia dois e dia três não dormi nem sequer um único minuto, tudo era terrível só mesmo a hora da visita me acalmava pois tinha o carinho dos filhos, quanto mais se aproximava a hora mais nervosa ficava.
Chegou a madrugada e ouvi que no quarto em frente tinha falecido uma doente, foi horrível a minha ansiedade aumentava a cada minuto.
Ás oito horas da manhã começaram os preparativos para a cirurgia, deram-me um produto para tomar banho que até hoje não esqueço, tinha um cheiro horripilante, em seguida vieram buscar-me para o bloco operatório, a cirurgia estava marcada para as nove horas, tremia tanto quanto chorava e o frio era gélido, estava completamente enregelada e as lágrimas não cessavam, lembro-me que um senhor muito simpático veio falar comigo e me disse que tudo ia correr bem, que o frio iria passar, prontamente trouxe com ele dois tubos de ar quente que me aqueceram até a alma!
Em breves minutos veio uma enfermeira com a voz mais doce do mundo fez-me uma festa deu-me uma injecção intravenosa e apresentou-se …”Sou a enfermeira Maria do Céu e vou tratar de si” ao que eu respondi: Lindo nome para uma enfermeira! A partir desse momento não lembro mais nada.
Lá fora estava a minha FILHA que pacientemente esperou por mim até ao final da cirurgia que acabou cerca das 13horas e 30 minutos.
Sei que me acordaram e senti dores alucinantes, deram-me morfina e adormeci, não lembro nada da sala de recobro, apenas das vozes dos meus filhos e das suas carícias, a filha disse-me: Mãezinha falei com o teu cirurgião e a cirurgia foi um sucesso, descansa tudo vai ficar bem.
Já nos cuidados intensivos lembro das vozes dos filhos, de os ver de bata e máscaras, lembranças muito fraccionadas pois estava ainda muito sedada, nessa noite tive a visita de uma enfermeira que tinha feito a promessa que me iria visitar, foi como se um anjo ali estivesse, levou consigo uma pomada e com mãos de anjo deu-me uma massagem nas costas que pareciam ter sido partidas em mil bocados tal não eram as dores, virou-me para o lado e sei que adormeci muito mais calma.
Dia 5 de Dezembro: era um dia muito especial para mim, a minha neta completava o seu 7º aniversario e pela1ºvez não poderia estar presente, meia adormecida lembrei com carinho todos os seus aniversários em que estive presente e chorei em silêncio.
Dia 6 levaram-me para a enfermaria e ai sim, fiquei consciente de tudo o que me rodeava…num dos braços tinha um cateter, no outro um aparelho (medidor) no indicador, tinha ainda algalia, sonda nasogástrica e o pior estava no pescoço!!! Um cateter na jugular tapado por um enorme penso.
Os meus filhos puderam observar que tinha pontos, só o retirei seis dias depois e lembro que foi um alivio mas que por muito pouco não desmaie. As dores eram terríveis e o intestino teimava em não trabalhar, nesse mesmo dia foi-me retirada a sonda e a algalia, resultado: fique com incontinência e só mesmo de fraldas, meu Deus que desconforto mas enfim tinha que ser. Comecei a comer dieta mole mas os intestinos continuavam sem trabalhar. Já no 7º dia e nada de trabalharem, resultado fui entubada novamente e aí sim sofri imenso, sangrei horrores e foi doloroso, comecei a ser alimentada pela sonda, e fiquei novamente a soro, as dores eram cada vez mais intensas e já nada mas tirava, já no dia 14 aniversário da minha filha tive uma noite que pensei que morreria, o medico veio á minha cama 5 vezes a ultima para me levarem a fazer uma TAC, só pedia que me salvassem e que me tirassem aquelas dores pedia ainda para ver mais uma vez os meus filhos, o médico acalmou-me e disse que isto era normal nem todos reagem da mesma forma e que iria passar rápido. O intestino no sítio que foi suturado fez edema, por isso não funcionava, entrei em depressão e tive que ter apoio psicológico.
Ao décimo sétimo dia a sonda saiu do sítio, para a colocarem novamente foi um Deus nos acuda e o resultado o pior… retirei a sonda eu mesma.
Foi chamado um médico que não era da minha equipa que deu ordem para me entubarem novamente, nem queria acreditar que ia passar por tudo aquilo novamente, recusei terminantemente e pedi para esperar pela manhã e que só o fariam com ordem do Dr. João Malaquias.
Nessa manhã não sei se por medo de passar por todo aquele tormento ou por obra do destino o intestino funcionou pela 1ªvez, fiquei tão feliz que contei logo ao enfermeiro que veio dar-me aquela injecção terrível na barriga. Foi uma festa na enfermaria e livrei-me de ser entubada.
Quando o meu médico chegou contei-lhe ao que ele me respondeu: Eu sabia que dia menos dia isso iria acontecer por vezes temos que dar dois passos atrás para dar um á frente.
No dia 20 regressei a casa ainda muito debilitada, mas só o estar em casa já era meia cura, fiquei com 42 kg, menos 42 cm de intestino e muito fraca.
Fui melhorando dia após dia e 9 meses depois estou a pesar 53 kg , nunca mais tive uma dor e sinto-me com muito mais energia e mais qualidade de vida.
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Maria Brito